terça-feira, 2 de abril de 2013

Querido Pai,

Não sei quem inventou que os pais não são pra sempre. Me contaram que sempre foi assim. Na maior parte das vezes, chega um momento da vida de um filho que ele tem que aprender a viver sem a presença do seu pai. 
Eu tinha uns cinco anos quando te apelidei de gigante. Quando uns meninos idiotas começaram a me amedrontar, entrei em casa, te chamei e mostrei a tua mão a todos eles. No mesmo momento eles pararam de me chatear. Foi quando eu descobri que, não importava o tamanho do problema, se eu te chamasse, iria estar tudo bem.
Mal consigo imaginar como será daqui pra frente. Nesse turbilhão de emoções das últimas semanas, confesso que ainda não comecei a viver, de fato, sem você. Daqui a alguns dias não terá hospital, velório, missa e nem ligações. Não terão pêsames, condolências e sinto muitos. Será minha saudade e eu. Nós duas formando uma dupla imbatível de falta de você. E como você faz falta, pai.
Sua presença na minha vida ultrapassou os limites da paternidade e nossa relação foi de melhores amigos. Não lembro de só um assunto que não tenha conversado com você. Não lembro de decisão alguma que tenha tomado sem os seus conselhos. Você foi meu norte, meu sul, minha alma gêmea. Foi meu melhor amigo, o homem da minha vida, o alicerce de todas as horas. A minha âncora, a minha paz, a minha guerra. A minha honra.
O mundo perdeu um pouco da sua graça, da sua cor e do seu sorriso. Não tem mais tanta graça ouvir Chico Buarque, não tem quem corrija meus erros gramaticais e nem me console das ressacas morais. Não tem quem me cubra na hora de dormir, quem me chame de pacotinho e que me ajude com os trabalhos da faculdade com a mesma atenção e carinho das tarefas escolares. Para você, eu nunca deixei de ser 'de menor'.
Pai, tua voz estridente ainda grita em meu coração. E todas as vezes que o telefone toca, eu penso que é você. Todas as vezes que eu penso em te contar uma novidade, uma piada ou de apenas te pedir que me ensine a lidar com toda essa confusão. Queria ter tido mais tempo.
Você vai viver dentro de mim. Dizem que também vive nos meus detalhes físicos e na minha personalidade. Mas o que ninguém sabe é que você está vivo no meu coração.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

A queijadinha.

Ele chegava e dizia 'meu fio adora um docinho, que nem eu'. Ele sabia que eu era uma formiguinha, que amava coisa doce, ainda mais doce de coco. Queijadinha foi e sempre será o meu doce favorito. E ele sabia. Sabia porque era o dele também.
No dia que ele morreu ele tinha saído pra comprar queijadinha pra mim, com a minha mãe. Ela me disse que ele falou 'isso aqui é pro amor da gente'. Não sei se ela inventou isso para acalentar meu coração, mas eu acredito.
Passei muito tempo sem comer uma queijadinha na vida. E, das que eu comi, nenhuma chegava aos pés da que ele comprava pra mim.
Hoje levantei me sentindo estranha. Uma sensação de que alguma coisa vai acontecer. No caminho para o trabalho tem uma igreja. Não sou católica nem nada, mas entrei para tentar me sentir melhor. E lá eu tive vontade de chorar, tive vontade de sair correndo. Porque a vida não é nem metade do que a gente sonha. E pedi, silenciosamente, naquele momento que o meu avô cuidasse de mim.
Logo hoje, depois do almoço, encontrei uma queijadinha que tem um gosto igual ao da infância.
Vai saber.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

madrugada

Eu gosto da madrugada. É ela que guarda todos os sonhos, todos os desejos insanos e desesperados. É a madrugada que guarda o choro no travesseiro e o roçar de pernas na cama. A madrugada que guarda as saideiras, as conversas polêmicas e o silêncio. O silêncio dos culpados e dos inocentes. É ela que abriga todos os segredos. De todos nós que, noite a noite, passamos por ela e a confidenciamos tantas coisas. É na madrugada que eu gosto de viver.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Nós somos jovens.

Nós somos jovens. Jovens. Eu não disse aventureiros e nem extrovertidos e nem namoradeiros. Eu disse jovens. E, dentro da imensidão da nossa imaturidade, temos todos os sonhos do mundo. Nós somos jovens. Podemos errar. E erramos! Podemos acertar e somos eleitos heróis. Somos forçados a tomar decisões, mas voltamos atrás. Porque jovens podem mudar de ideia o tempo inteiro. Escolhemos as roupas que vamos vestir, o estilo que vamos seguir e a nova música que vamos curtir. Escolhemos entre ketchup ou mostarda, cerveja ou vodka, direito ou teatro. Somos lindos. Independente de quão feio você é, quando se é jovem é que se é mais bonito.
Nós somos jovens. Jovens. E podemos ser jovens até quando nós quisermos.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Toda vez que alguém fala da tragédia de Santa Maria, parece que eu levo um soco no meu peito. Não consigo mensurar o pavor que bate na minha garganta quando penso que poderia ter sido em qualquer lugar, até mesmo aqui. Até mesmo comigo.
Não sei bem o motivo, mas desde que soube da tragédia, comecei a me lembrar de quando comecei a andar sozinha de casa para o colégio e do colégio para casa. Eu andava rezando para que nada de ruim me acontecesse e com as mãos geladas, com medo da vulnerabilidade de estar ali, sozinha, podendo qualquer pessoa me fazer mal. É assim que eu volto a me sentir hoje. Talvez, por alguns anos, eu e todos os jovens deste país tenhamos achado o que todos os jovens pensam: conosco não vai acontecer.
Enquanto aquelas pessoas se arrumavam para sair, milhares de outros jovens também se embelezavam no sábado à noite. Provavelmente, muitos de nós dançamos as mesmas músicas que tocaram naquela boate e alguns até devem ter passado por situações parecidas. Rimos, cantamos e dançamos. Porque é isso o que os jovens fazem. Nós somos felizes, alegres e extrovertidos. Exatamente como a família da maioria das vítimas descreve os entes queridos que não sobreviveram.
E a mídia expõe os casos mais chocantes. Como o pai que sentiu um pressentimento ruim e foi para a frente da boate. Ou o estudante que tinha mais de 120 chamadas não atendidas no celular. Ou o namorado que mandou uma sms para a amada avisando que não conseguiria sair. Porque o fogo começou a acabar, pouco a pouco, não só com a vida de cada um, mas com a esperança. E nenhum jovem merece viver sem esperança.
O Brasil amanheceu de Luto. Foram mais de um milhão de sonhos cessados. Mais de 200 corpos enterrados. Mais de 100 estudantes feridos. Vidas que se transformaram em um segundo.
Vai passar.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

De 5ª

Eu e essa minha mania de achar que a gente vive num filme. Fico sempre tentando falar frases feitas, colocar a música na hora certa e tirar fotos em ângulos que me favorecem. O que eu nunca tinha me tocado é que não adianta forçar a barra para um romance ser igual nas telonas. As vezes é mais divertido, e até mais sincero, do que isso. Se nós fossemos estrelar um longa, seria um filme de quinta. Quinta categoria.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Terminando com amigos.

Quando eu lembrar da gente, quero lembrar da gente rindo.
Acabou tudo. O dia a dia com vocês miou, morgou, já deu. Foram 4 anos da gente se vendo dia e noite, de segunda a sábado, e isso deixou a gente tão parecido um com o outro que ninguém tem noção. Muitas vezes   me pego falando expressões e palavras que não são coisas minhas. São de vocês. Porque chega uma hora na vida que, de tão amigos, começamos a nos misturar.
Com a gente não foi diferente. Foi tudo junto e misturado. Foi, de longe, a experiência mais louca da minha vida. Eu não sei como consegui amar tanto e tanta gente em apenas 4 anos. Mas, acreditem em mim, foi amor demais e pra vida toda.
E aí que agora tá batendo a síndrome de Peter Pan. Não estar com vocês significa mais do que não estar com vocês. Significa bola pra frente, carteira assinada, pagar as contas e se ver, uma vez por ano, naquele encontro da faculdade. Também significa que, cada vez mais, o "desce que eu to chegando" vai ficar mais parecido com o 'vamo marcar'. E, é claro, vamos arranjar outros amores diários. Porque o ser humano é assim, sabe? Precisa de amor no cotidiano. Talvez sejam os amigos do trabalho, ou da academia, ou do curso de francês. Mas vai aparecer outra turma, uma hora ou outra, para todos nós.
É claro que não vamos deixar de ser amigos. Somos amigos para o resto da vida. E amigos não têm pressa. Não precisamos ver um amigo toda semana para que ele seja nosso. Mas é tão bom vê-lo sempre que deveria ser obrigatório.
Eu, realmente, não sei como vai ser a minha vida sem vocês. Eu não sei muito bem quem eu sou agora. Não sei se vou ser hippie, atleta ou se vou ser dark. Mas sei que vou sentir saudade.
Eu odeio despedidas. Mas, apesar de ser ruim, a gente sabe que é bom. Eu poderia poupar vocês desse drama ou apenas não expor isso num lugar público. Mas eu prefiro que fique aqui, porque se um dia vocês precisarem saber se são importantes pra alguém, voltem aqui, leiam, e se lembrem que vocês são parte de mim.
Já to morrendo de saudades.